7 de junho de 2008

Paixão por casas (Le Corbusier, cités radieuses)

Gosto de casas, sobretudo de apartamentos. Isto é, de as conhecer. Não que seja daquelas pessoas que aos fins-de-semana vai ver casas só porque sim. Aliás, a última vez que fiz isso acabei com uma casa comprada. Mas gosto de conhecer casas de pessoas, mobiladas e já com alma.

Tantas e tantas vezes, vou na rua, olho para uma janela e quase tenho vontade de tocar à campainha para lá ir espreitar. Então quando ando em viagem a vontade é ainda maior. Porque adorava ter entrado em dezenas de apartamentos em Berlim, em Barcelona, em Moscovo, em Veneza. Na impossibilidade de lá entrar, folheio revistas de decoração e de arquitectura, e tenho uma série de livros só sobre apartamentos.

E, hoje de manhã, fui ao CCB ver uma exposição sobre Le Corbusier (1887-1965), por muitos considerado o maior arquitecto do século XX. Não sei se terá sido o maior, mas pelo menos um dos mais versáteis foi de certeza. Dele, vi pintura, escultura, mobiliário, papel de parede, capas de livros e de revistas, igrejas, pavilhões, sedes de instituições, casas e, claro, prédios de apartamentos.

Os que mais me impressionaram, pelo carácter funcional, foram as diversas unités d’habitation que projectou para Marselha (a mais conhecida), Rezé-Nantes, Berlim, Briey en Forêt e Firminy. As unités d’habitation, construídas após a II Guerra Mundial, são também chamadas de cités radieuses (por o conceito ser essencialmente o de concentrar uma pequena cidade em altura, com todos os serviços essenciais num mesmo bloco).

Para dar uma ideia, ao nível do rés-do-chão há apenas grandes pilares, para que a circulação se faça como se ali não houvesse qualquer edifício. A entrada para o bloco é feita pelos extremos. A cada x andares, há 1 ou 2 exclusivamente dedicados a comércio (mercearia, talho, cabeleireiro, padaria), acessíveis através de «ruas aéreas». No terraço, a cerca de 16 andares de altura, há uma piscina para crianças e um jardim infantil.

E as casas? Ah, pois, as casas… Nada de fantástico a nível de dimensões, nada do que se vê hoje com salas de 30 e 40 m2. Mas tudo extremamente funcional, com um aproveitamento do espaço incrível e muito eficiente (concebido para corpos humanos com 1,83 m). Desenhados como «garrafas numa garrafeira», isto é, construídos ao comprido e abarcando o edifício nas suas duas frentes (o que facilita a ventilação), cada apartamento tem dois pisos com cerca de 24 m de comprimento por 4 m de largura. Fora dos apartamentos, corredores escuros para desincentivar a «conversa» (o que poderia incomodar com o barulho) e portas de entrada muito bem iluminadas. Lá dentro, cozinha americana com triturador de lixo no lava-louças, fogão eléctrico e conduta de lixo (atenção, estávamos nos anos 50!). Ainda no andar de baixo, sala com pé direito elevado junto à janela, que comunica com o andar de cima. Lá em cima, os quartos. O das crianças, dividido ao meio por uma porta deslizante que une ou divide as áreas. Aberta, proporciona um espaço comum. Fechado, tem uma ardósia para escrever na parede.

Para quem quiser experimentar uma visita virtual, espreite http://maisonradieuse.org/visiter/visiter.html. Para ver fotografias, aqui: http://www.villes-en-france.org/histoire/Corbu13.html.
Vale bem a pena.

2 comentários:

Mary disse...

A exposição está na minha agenda para a semana que vem. Fiquei particularmente interessada na porta deslizante que divide o quarto das crianças - guess why...?

Vespinha disse...

Não a podes ver na exposição, mas podes espreitá-la num dos links que coloquei no tópico...