12 de novembro de 2008

A sétima porta, de Richard Zimler

Quando pensava na II Guerra Mundial (tema que sempre me interessou pela minha incompreensão para com ele), pensava essencialmente no «durante», nos horrores do Holocausto, nos campos de concentração, nas valas comuns, nas caras famintas e sem expressão dos que eram transportados para Auschwitz, Buchenwald, Sachsenhausen e tantos outros campos «de trabalho». E pensava também essencialmente no povo judeu, implacavelmente perseguido.

Mas houve também um «antes» e um «depois», e muitas outras vítimas não judias de que muitos nem nos apercebemos. Em A Sétima Porta, de Richard Zimler, conheci a história de Sophie, uma rapariga de 15 anos em 1932, um ano antes de Hitler ser nomeado chanceler da Alemanha. Sophie vive em Berlim e tem um pai comunista, uma mãe católica e um irmão «parado» (autista, nos nossos dias). Não são judeus, mas Sophie tem muitos amigos judeus e vive também rodeada de outras personagens menos ortodoxas: uma amiga que sofre de gigantismo, dois anões, dois surdos, um cego.

Ao longo dos anos, vamos assistindo às manobras cada vez mais insinuantes do partido nacional-socialista, com o objectivo de banir o povo judaico e todos os seus vestígios da sociedade. Como cúmulo, na Noite de Cristal, depois de arianos terem destruído milhares de lojas judaicas, os judeus são obrigados a pagar multas pela destruição das suas próprias posses. Também os deficientes são perseguidos, a maioria dos quais esterilizados para não «sujarem» a raça ariana.

Ao longo dos anos, cada personagem tenta adaptar-se às novas circunstâncias, umas continuando a lutar até ao fim, outras «mudando de equipa» à medida que a conjuntura se vai alterando. Algumas personagens surpreendem-nos, outras nem por isso.

Finda a guerra, a vida de Sophie já deu voltas que grande parte das nossas vidas nunca darão. E ainda bem. Terminado o livro, chego a uma conclusão que poucos livros me mostram: que sorte que tenho de ter nascido neste tempo e neste lugar.

3 comentários:

Mário César Borges Marques de Abreu, natural de Lisboa disse...
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Mário César Borges Marques de Abreu, natural de Lisboa disse...

Hoje senti necessidade de consultar alguns blogues, o que penso que vou passar a fazer com mais regularidade. Trata-se de uma nova forma de convívio virtual dos humanos do Século XXI, que as circunstâncias da vida actual tantas vezes forçam ao isolamento. Este seu comentário sobre a infeliz tragédia dos judeus na Alemanha nazi fez-me lembrar o livro que está para ser publicado e que traduzi penosa e arduamente desde o início de Março até final de Agosto: "O RESTO É RUÍDO - À ESCUTA DO SÉCULO XX" (The Rest is Noise - Listening to the Twentieth Century). O trabalho foi árduo, mas, mesmo assim, foi um prazer: o livro é belo e tem tido um êxito estrondoso nos Estados Unidos e não só. Lá se descreve a história da música clássica e um tanto da de Jazz, bem como a vida de muitos dos seus compositores - que, alguns deles, tiveram de se exilar nos Estados Unidos - tudo inserido nos eventos históricos, políticos e sociais que eles viveram e que impregnaram aqueles também terríveis anos do hitlerismo nazi e do estalinismo. E agora é que vem o "a propósito"...: é que se descrevem no livro as perseguições por que passaram, na Alemanha nazi (mas também na União Soviética estalinista) vários compositores alemães conhecidos (e não só alemães), apenas por terem introduzido nas suas composições escalas dodecafónicas e por terem enveredado assim pela música atonal. Este tipo de música era considerado pelos nazis (e pelos estalinistas) música em que transparecia uma cultura que consideravam decadente e imprópria da raça ariana (no que se refere aos nazis) e incapaz de descrever a realidade concreta da vida dos povos e das suas dificuldades (especialmente no que se refere aos estalinistas soviéticos), ou seja, ela seria uma maneira de desviar a atenção das gentes da época do concreto que era a luta da classe operária pela sobrevivência e contra a exploração capitalista. O livro já está também a ser traduzido em França e na Alemanha. A "falecida" Livraria Byblos, de Lisboa, já vendeu 10 exemplares da edição original americana, e já tinha encomendado mais. A edição em língua inglesa tem cerca de 600 páginas e julgo que a portuguesa irá contar com cerca de 700 a 800. Já agora, parabéns pelo seu interessante blogue !
Mário César Abreu - Alfragide

7:14 PM

Mário César Borges Marques de Abreu, natural de Lisboa disse...

Afinal, por razões logísticas (revisão ainda não completada devido à extensão da obra) e estratégicas (a editora pretende que o livro tenha maior visibilidade nas livrarias noutra época), o livro só irá ser publicado na próxima Primavera. Janeiro e Fevereiro são meses de vendas fracas e em Abril há a Festa da Música no CCB.