5 de outubro de 2009

A segregação dá nisto

Há 20 anos, uma nave extraterrestre desceu sobre Joanesburgo, não chegando a aterrar e limitando-se a pairar sobre a cidade. Perante a sua imobilidade, os seres humanos conseguiram lá entrar e resgatar cerca de um milhão de passageiros, desnutridos e desidratados. Sem saberem o que fazer com eles, e com a nave inutilizada para os levar de volta, relegaram-nos para uma espécie de gueto nos arredores da cidade, o Distrito 9 (realização de Neil Blomkamp, produção de Peter Jackson).

Com o passar dos anos, o clima foi-se agravando, decorrente de todas as consequências deste tipo de segregação: xenofobia, tráfico de armas, roubo dos bens mais básicos, mercado negro. Até que as tensões e a pressão da população se agravaram demasiado, obrigando a MNU (Multi-National United), uma empresa de segurança privada, a evacuar os refugiados para um campo bem mais longe da cidade. É aqui que entra em cena Wikus van der Merwe (Sharlto Copley, uma descoberta fabulosa), um mero funcionário que, no seu raid pelo campo de refugiados para os fazer assinar a ordem de despejo, é infectado, sofrendo uma mutação no seu ADN.

Tudo isto filmado como se de um documentário se tratasse. E mais não conto.

Limito-me a acrescentar que este é um dos melhores filmes de ficção científica que já vi, que vive não dos efeitos especiais mas das cenas de enorme tensão, do impressionante retrato de uma sociedade dividida, da crítica ao que nós, seres humanos, somos capazes de fazer, por vezes a nós próprios, como no caso do apartheid.

Não, não é uma superprodução hollywoodesca. Não, não é uma lição de moral à americana. É um filme que vale a pena ver, mesmo por quem não goste de ficção científica. Porque trata, também, de direitos. E não apenas humanos.

3 comentários:

Anónimo disse...

ESTAVA a milhas de pensar ver este filme...

Vespinha disse...

Atenção que não deixa de ser um filme de FC... mas repleto de simbolismos. (e eu também sou fã de Watchmen, por exemplo)

Ka disse...

Após me passar a estranheza inicial, acabei por me deixar envolver pelo filme. Adorei também e confesso que saí bastante perturbada da sala de cinema, a penmsar, reflectir, incomodada com o que vi e com a sociedade que temos...