12 de junho de 2010

Roma - 7, Lisboa - 9

Já regressei há 3 semanas, mas precisei de algum tempo para me ajudar a combater o deslumbramento/desapontamento da minha viagem a Roma. Porque tenho a certeza de que se tivesse escrito logo teria sido muito mais mázinha.

Tinha estado em Roma há talvez uns 15 anos e não tinha gostado, julgava que pelo choque de ali aterrar vinda de Veneza e Florença. Por isso voltei, agora só a Roma e durante uma semana, para não haver termo de comparação.

Mas comparo-a, é inevitável. Com Lisboa.

As esplanadas: 1-0
Os romanos sabem tirar partido de qualquer cantinho ao ar livre. Qualquer bocado de passeio serve para estender uma esplanada, e se não houver passeio passa para a estrada.

A limpeza das ruas: 0-1
Beatas, papéis, sacos do lixo abertos, ausência de caixotes do lixo, Roma é uma cidade suja. Em pleno centro, andei mais de 15 minutos (o equivalente a cerca de 1 km) com um papel na mão até encontrar um caixote para o deitar.

Os gelados: 1-0
Geladarias por todo o lado, sabores escolhidos ao dedo (o de Baci é fenomenal) e preços que põem os senhores do Santini e da Häagen Dazs a um canto. Pagava por duas bolas generosas o que cá pago por uma mirradinha.

As igrejas: 1-0
Ainda não tive coragem de entrar numa igreja em Lisboa depois de voltar. Porque acho que me vou sentir muito pobrezinha.

O trânsito: 0-1
Em Roma é caótico, como já previa. Os peões atravessam onde calha e, surpreendentemente, conseguem sempre passar. As scooters parecem enxames (infelizmente, as Vespas já não dominam, foram ultrapassadas pelos modelos japoneses) e conseguem o respeito dos carros. É difícil encontrar carro ou mota sem riscos, amolgadelas ou para-choques presos por cordéis.

A comida: 1-1
Pizas, massas, risotto, mozarela, tomate… Quem disse que a comida italiana engorda? A verdade é que comi à grande, por pouco dinheiro, e voltei com o mesmo peso. E a verdade também é que em Roma não vi obesos.

A simpatia: 0-1
De um modo geral, os romanos pouco se importam com o próximo. Se nos cai uma coisa ou chão, se nos atrapalhamos com uma expressão... who cares? Mas há excepções. Como duas ou três pessoas que nos deram indicações sem lhes pedirmos e a família do restaurante Santi, não esfuziante mas com uma simpatia discreta que nos fazia sentir em casa.

A ladroagem: 0-1
Há muitos e ainda por cima são cobardes, porque os carteiristas «atacam» no metro e em hora de ponta. Ao meu pai quem roubou a carteira foi uma mulher, apesar de não o termos conseguido provar. Três dias depois voltámos a cruzar-nos com ela num autocarro.

As ruínas: 1-0
Roma bate todos os recordes, tudo é grandioso, tudo é enorme, tudo é esmagador. O coliseu, os fóruns, o teatro de Marcelo, os mercados de Trajano, as termas de Caracala.

O rio: 0-1
O Tibre atravessa toda a cidade, bem perto da zona central, mas a cor das suas águas (castanho, faça chuva ou faça sol) transmite tristeza e mostra que os romanos não lhe dão a importância e o valor que podiam dar.

O sossego: 0-1
Os turistas não deixam Roma em paz. Andam em bandos, em hordas, japoneses e não só. A Piazza Navona, a Fonte de Trevi e a Praça de Espanha, mal as consegui ver. Tive a sorte de levar boas dicas para explorar bairros e atracções menos concorridos.

O planeamento urbano: 0-1
Pareceu-me que em Roma não existe. Os carros andam e estacionam por onde calha, as scooters ainda mais. Os peões, esses, vão para a estrada ou por onde conseguirem passar. Os passeios são estreitos, sujos e esburacados.

As fontes: 1-0
São tantas, e tão grandiosas, que aquelas que estão ao nível das nossas passam completamente despercebidas. Há fontanários de água fresca e potável por todo o lado e, em Roma, a venda de garrafas de água não deve ser um negócio muito lucrativo.
O Papa: 1-1
Ah pois é, aqui houve empate. Porque se não fui ver o Papa em Lisboa, fui vê-lo a Roma, onde por sorte assisti a uma missa inteirinha ao ar livre a elogiar e a falar da visita a Portugal.

As maiores surpresas: os mercados de Trajano, o gueto, o Trastevere, o Aventino, as basílicas, o Panteão, o Coliseu e os fóruns.

As maiores desilusões: a Capela Sistina (onde a multidão e os guardas constantemente a pedir silêncio não nos deixam estar em paz ), a Piazza Navona (muito descaracterizada com estruturas montadas pelo meio e gente que nunca mais acaba), o Castel Sant'Angelo (onde dei €8 para entrar, com os interiores muito descuidados e umas exposições miseráveis) e a desmistificação das Vespas reluzentes e coloridas por todo o lado.

Lisboa ganha, se não na perspectiva dos turistas com tantas coisas grandiosas para ver, pelo menos na minha. A que avalia a qualidade de vida.

5 comentários:

estouparaaquivirada disse...

Não conheço Roma, só fui a Milão e Veneza.
Tive azar em Veneza porque apanhei nevoeiro tão forte que não se via de uma margem para outra...
Gostei de saber a tua opinião.
xx

Vespinha disse...

Milão vê-se depressa, Veneza é linda, misteriosa e com uma degradação que me encanta...

PSousa disse...

Excelente análise, Vespinha! Tendo ido em época diferente... teria algumas diferenças também relativamente à tua análise... mas como parto 6.ª feira, vou guardar para o regresso, essa mesma análise!

(Adorei o grafismo da pontuação! Bom gosto as usual!)

Bj doce

Vespinha disse...

I'll wait!

Unknown disse...

Pois, percebo o que queres dizer.
Todas as cidades têm pontos positivos e outros negativos.

Roma terá o seu encanto e os seus defeitos, claro.

Bela análise!
Gostei!

Beijinhos