28 de julho de 2010

Últimas: 21:12 - 23 fogos ativos

E, como não podia deixar de ser, vem o calor, vem o mato seco, vêm os incêndios. Causados por negligência, por vingança, por motivos económicos. Dá-me verdadeiras náuseas ver o país a arder.

26 de julho de 2010

Episódio numa noite de calor

A propósito desta canícula, o meu irmão acaba de me recordar um episódio de há muitos anos, numa noite também quente mas seguramente não tanto como a de hoje.

O meu pai, totalmente avesso a temperaturas acima dos 25 ºC, a morrer de calor, obrigou-nos a todos (à minha mãe e a nós os três) a ir dormir para a praia da Adraga, com sacos-cama e cobertores. Contado assim até parece divertido, mas na altura não foi nada: ele ia furioso, alterado pelo calor, nós cansadíssimos, sem perceber para quê aquela «birra», ninguém conseguiu dormir e voltámos para casa com ele ainda mais zangado.

De facto, quando somos crianças parece que nenhuma temperatura nos incomoda. Como o compreendo hoje em dia.

24 de julho de 2010

Wishlist #1

O museu de Lisboa onde acho que já entrei mais vezes tem pouco mais de um ano. Mas, por estar num lugar de passagem, por não se pagar entrada e por ter uma coleção em constante renovação, é uma tentação sempre que passo na rua Augusta.

O MUDE, instalado na antiga sede do BNU antes de uma adaptação definitiva a museu, expõe as obras da coleção de Francisco Capelo (o principal responsável pela seleção das peças de Joe Berardo), integradas num espaço enorme e esventrado, com um contraste incrível que por isso mesmo ganha um encanto especial. Sempre que lá vou, apetece-me levar algumas peças para casa. Uma delas é esta DCW Dining Chair, de Charles e Ray Eames, 1945:

Acabo de me aperceber que talvez um dia possa comprar uma réplica através daqui.

21 de julho de 2010

Uma história sobre Oliveiras

Era uma vez 3 irmãos*: João, Joaquim e Maria Augusta, todos nascidos em Currelos, na Beira Alta, entre o final dos anos 20 e o início dos anos 30. Todos Oliveiras.

João, devido a problemas de saúde, cedo se mudou para Lisboa, para mais perto do mar, onde foi criado pelos padrinhos. Joaquim, devido a uma discussão com o pai por causa de um pessegueiro, emigrou para o Brasil, sem nada nem ninguém. Maria Augusta ficou, com o desgosto da mãe e a zanga do pai. João e Joaquim já morreram, um em Lisboa em 1989, outro no Rio em 2006. Desde a partida para o Brasil, julgo que nos anos 50, só se viram uma vez, em Lisboa, e já praticamente sem João ter noção desse encontro. Maria Augusta era o único elo de ligação, que com o tempo se foi perdendo.

João era o pai do meu pai, o meu avô João. E desde há uns tempos que eu e o meu irmão nos interrogávamos se não teríamos primos no Brasil, talvez até parecidos connosco.

No dia 1 de Março deste ano tudo mudou. Recebi uma mensagem no Facebook, com o título «Contato familiar no Brasil». Era o neto mais velho do tio Joaquim, que andava à procura da «família portuguesa». E a partir daí os acontecimentos precipitaram-se: troca de nomes, de contactos, de mails, e agora… a vinda dele e de mais uma prima a Portugal. (Curiosidade: o Vinicius é a cara chapada do meu irmão, em moreno e mais magro…)

Nos últimos dias, descobri e apaixonei-me pela minha nova família, e abriram-se novos horizontes na minha vida. Sinto-me muito, muito feliz e sortuda por saber que tenho uns primos (todos Oliveiras) que parece que conheço desde sempre e de quem agora nos despedimos com as lágrimas a escorrer pela cara abaixo.

É só o princípio de uma história feliz.

* Sei, pelo Geneall, que houve um quarto irmão, mais velho, chamado António Gonçalo, mas os pormenores ficam por aqui.

10 de julho de 2010

Uma simbiose perfeita

Fotografia de Marcelo Hoffmann.

Há 2 anos, quando estive internada em S. José no serviço de oftalmologia para pôr as lentes intra-oculares, lembro-me de ver passar no corredor uma cega com um cão-guia à frente. Naquela situação, e com aquela ansiedade inerente e inevitável de quem vai ser operado (ainda que soubesse que a taxa de sucesso era altíssima), apercebi-me da importância de um cão-guia na vida de um cego.

Um cão-guia bem treinado evita que o dono se depare com obstáculos no chão (buracos, excrementos, degraus, poças de água…), evita os que ameaçam a cabeça do cego (como ramos de árvores), procura-lhe uma caixa multibanco ou um lugar sentado nos transportes públicos, localiza as passadeiras e o sinal verde para atravessar. E, claro, faz-lhe companhia. E fazem-se companhia um ao outro.

Em Portugal, apenas uma escola se dedica ao treino destes cães, quase todos retrievers do labrador por serem muito meigos, apegados ao dono e fáceis de educar. Na Associação Beira Aguieira de Apoio ao Deficiente Visual os cães são treinados durante dois anos até poderem ser atribuídos a um cego. Desses dois anos, o primeiro é passado junto de uma «família de acolhimento», encarregada de socializar o cão, de o habituar a ir à rua e a conviver com outras pessoas e animais. Sempre sob a supervisão e com as instruções de um educador. Depois, é a separação gradual, um treino mais intenso e o início da relação com o futuro dono. Sublinhe-se que, em Portugal, os cães-guia não são pagos, apesar de a sua educação sair bem cara. Mas, como se costuma dizer, «é por uma boa causa»

Há dias, quando comentei com uma colega que ia escrever sobre os cães-guia, perguntou-me se estes cães não seriam meramente utilitários e pouco felizes, vivendo apenas em função do dono. Hoje, depois de ter lido mais umas coisas, respondo que não acho. Quem tem cães sabe que um cão, e sobretudo um labrador, vive em função do carinho do dono (e só assim vive feliz). E, parece-me, não há cães com mais atenção e amor do que estes. Uma simbiose perfeita.

1 de julho de 2010

Silêncio, por favor

Se tenho uma visão muito deficiente, que um dia me obrigou a colocar lentes intra-oculares, já a minha audição compensa-a em larga escala. E, se calhar por ouvir demasiado bem, eu não gosto de barulho. Em geral, de espécie alguma. Mas há certos barulhos que ouço com muita frequência e que têm o dom de me irritar ao ponto de não conseguir sequer pensar em mais nada a não ser no seu fim:

- televisão com o volume alto – em minha casa está sempre quase no mínimo; na casa dos outros, se tenho confiança acabo por pedir para baixarem o som;

- música em altos berros – se vem de casa dos vizinhos, entro numa espiral de irritação que por vezes só termina quando (delicadamente) lhes toco à porta para pedir para reduzirem o volume; em casa do meu pai (que adora ouvir música alto, apesar de ter uma boa audição) não tenho grande autoridade para a baixar;

- carros e motas a acelerar – se fosse polícia, multava todos os que ultrapassam os decibéis razoáveis permitidos por lei e que deviam ter sido controlados nos centros de inspecção automóvel;

- helicópteros – hoje em dia faz-se descolar um helicóptero por tudo e por nada: para observar o trânsito, para filmar desfiles e outros eventos, para controlar manifestações. Ao ouvir bater as pás de um helicóptero, consigo imaginar muito ao de leve o que será estar num cenário de guerra;

- crianças aos gritos – sobretudo se for a fazerem birra. E sobretudo se acompanhadas dos pais também aos gritos a dizerem-lhes para se calarem.