28 de setembro de 2011

O complexo de Portnoy, de Philip Roth

Eu não queria ter de ler uma cena em que uma prostituta defeca em cima de uma mesa de vidro enquanto o cliente se masturba na parte de baixo. Ou outra em que um homem se masturba em frente ao espelho e apanha com o esperma na cara. Ou outras ainda com masturbação com recurso a maçãs ou pedaços de fígado. Na verdade, fiquei cansada de ler a palavra «masturbação», «putz» (pila, em hebraico) ou «c**a» (desculpem-me, mas esta nem consigo escrever).

Em O complexo de Portnoy, Philip Roth apresenta-nos Alexander Portnoy na primeira pessoa, em sessões com um psiquiatra. Fala sobre a superproteção e autoridade da mãe, sobre os problemas de prisão de ventre do pai e da sua obsessão pelo sexo, em conflito permanente com a religião e com os princípios segundo os quais foi educado. É um ser ao mesmo tempo psicologicamente doente mas também frágil, de quem temos pena pela ansiedade em que vive.

Bem sei que um bom livro é muitas vezes aquele que causa reações, e este causou-me acima de tudo repulsa em muitas passagens (apesar de por todo o lado ser classificado como um livro extremamente divertido*). E talvez este seja de facto um bom livro. Mas eu não gostei e não o recomendaria a ninguém. E ainda bem que não foi o primeiro livro de Philip Roth que li, porque se fosse não sei se lhe daria uma segunda oportunidade.

* Este é outro ponto a explorar: é o segundo livro que leio com um «judeu» como personagem principal que a crítica classifica como divertidíssimo (o outro foi A questão Finkler, sobre um homem que aspirava a ser judeu), pela forma como ridiculariza alguns aspetos da cultura judaica, e a que eu não acho graça nenhuma. O meu sentido de humor deve andar desregulado.

1 comentário:

Cristina Torrão disse...

Sim, um bom livro deve causar emoções fortes, mas também me pergunto se tem de causar repulsa. Onde está a fronteira entre o original e o mau-gosto?
Na Alemanha, por exemplo, os romances históricos situados na Idade Média e que contêm cenas de violência chocantes vendem-se muito. Diz-se que a vida naquele tempo era violenta, o que nem sempre corresponde à verdade. Era mais do que hoje, sim, mas a violência extrema, ao contrário do que se possa pensar, era rara. Tenho a impressão de que as pessoas confundem realismo com cenas chocantes.

É preciso realmente chocar o leitor para singrar, como autor?